Apesar de bem noticiado e comemorado pelos parceiros em todo o mundo, os executivos da Toyota estão muito empenhados mesmo é para serem os melhores em qualidade. Isso mostra o sentimento que impera dentro de uma companhia que em vários aspectos contraria os mandamentos de uma empresa moderna. Suas crenças são realmente simples quando as observamos de perto e suas ações seguem os mesmos passos. O que é técnica para eles é a disciplina do fazer. Fazer o que foi pensado em grupo, discutido e acordado. Ter disciplina de seguir fazendo o que tem de ser feito, todos os dias, meses e anos. São 70 anos de persistência e disciplina que venceram a gigante GM, hoje preocupada com a saúde e sobrevivencia sadia da própria organização.
São pontos chaves da cultura da Toyota, o seu trabalho em equipe, a melhoria contínua em seus processos, tanto fabrís como administrativos, e o treinamento dos seus funcionários nessa teoria, que se pensar bem, não é nenhuma inovação. As inovações aparecem dentro dessa cultura ladeada por precauções, cuidados especiais e inúmeros testes para garantir que o cliente não será o laboratório do produto lançado. Enfim, fazer o que necessita ser feito não como uma novidade, uma teoria a mais para testar e sim como uma rotina. O treinamento de todos, garantirá uma ação cada vez mais padronizada que é o horizonte talhado para que se possam observar os desvios das boas práticas de produção. Treinamento estruturado primeiramente ao necessário, à rotina, ao padrão.
Portanto, insistir que os processos atinjam os padrões estabelecidos (e desejados), que as máquinas funcionem de acordo com o que foi prescrito pelo fabricante, e até melhor, pela introdução de novos acessórios adquiridos com o tempo, que os setups sejam sempre os menores possíveis, é sem dúvida o caminho para um percursso sem sobressaltos e uma alta eficiência de operação.
Os oito mandamentos seguidos por toda a Toyota há decadas, são os já conhecidos:
Qualidade, qualidade, qualidade
Obsessão por corte de custos
Investimento em treinamento
Emprego vitalício
Busca pela simplicidade
Visão de longo prazo
Decisão por consenso
Proximidade com o consumidor
Note que para nós, apenas o emprego vitalício foge bastante da nossa cultura... o resto dá para fazer foco. Não é seguir um modelo de indústria só porque ela é vencedora, mas fazer o que é simples e perfeiramente lógico para a saúde de uma empresa. Gostaria de insistir que, sem querer ser conservador, ser uma empresa ganhadora é fazer o que necessita ser feito, com persistência, com indicadores, enfim, com a certeza que todos estão entendendo a direção e o sentido. Treinar o simples e cobrar. Cobrar de maneira inteligente e objetiva, mostrando os desvios do que deveria ser feito. Através da constante revisão dos processos, da busca pelo aumento da produtividade (inserindo aí a logística), a manutenção das máquinas através de um programa de TPM, a busca constante, até obsessiva pelas diminuições de setups, os 5s’, o planejamento das ações de melhorias, tudo isso feito de maneira organizada e persistente, constituirá a chave de sucesso para as operações.
Isso requer o aparelhamento mínimo de pessoas que possam levar a cabo essas necessidades com paixão, com determinação e com a visão de um estado final (que será transitório quando se atingir) onde todas essas técnicas juntas estejam integradas e entranhadas na mente dos funcionários.
Para promover essa transformação, são adequadas pessoas que tenham os seguintes atributos:
Tenha paixão pelo sistema Lean de produção. Que realmente acredite e queira se aperfeiçoar.
Encare os projetos de melhoria não como uma semana de tortura, mas como uma oportunidade ímpar de reunir idéias de um grupo que irá modificar a história do processo ou equipamento dali para frente.
Seja um bom pesquisador e ouvidor dos problemas diários, para que após estruturá-los, programe os passos da erradicação dos mesmos.
Saiba calcular os lucros ou benefícios auferidos com o projeto realizado. Saiba prever, à luz desses benefícios, quais seriam os projetos prioritários.
Goste de ensinar. Treinamento de companheiros de trabalho será a sua rotina diária.
Seja organizado e consiga estruturar as ações que já foram realizadas e as ações que estão em curso.
Tenha noções de estatística, pois os relatórios do CEP será a sua leitura preferida.
Tenha conhecimentos médios de mecânica e de eletrônica para entender as máquinas que estão envolvidas no projeto.
Seja uma pessoa de fácil trânsito pelas diversas áreas, o que irá facilitar a obtenção das diversas “ajudas” que se fazem necessárias aos diversos tipos de projetos.
Tenha um estilo de trabalho persistente e determinado, não mudando o foco ante as dificuldades normais do projeto. Pequenos resultados compõem em geral o cenário para um resultado maior. Saber reconhecer esses sinais é a chave para a composição da grande melhoria.
Resumindo essas observações, não é simplesmente a inovação que fará a mudança, mas a crença na teoria do Lean associada com uma estrutura e uma disciplina de fazer o que necessita ser feito, pequenas e grandes ações, todo dia e por todos que compõem o sistema produtivo. Quando em assuntos de qualidade procuramos “encantar o cliente”, lembre-se que isso é até fácil de fazer, pois são ações isoladas e específicas que provocam essa sensação. Todos se motivam para fazer, é fácil obter a adesão. O difícil é fazer dia a dia, o que podemos enquadrar como “satisfazer o cliente”, pois para isso, é necessária uma rotina rígida de trabalho, uma disciplina de fazer todo dia o que necessita ser feito, seguindo os padrões já estabelecidos e criando novos padrões onde não existem ou necessitem ser melhorados.
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